terça-feira, 28 de julho de 2009

Futebol:Autor de livro sobre Beckham afirma que Galaxy não é prioridade para o meia

Poucos americanos entendem tanto de futebol como o jornalista Grant Wahl, da revista “Sport Illustrated”. Presente em cinco Copas do Mundo, ele publicou um livro sobre David Beckham nos Estados Unidos: “The Beckham Experiment”, que já causou polêmica por causa das declarações do atacante Donovan contra o inglês. Após a primeira briga do meia com fãs do Los Angeles Galaxy, em conversa com o GLOBO por e-mail, o repórter disse que o clube da Califórnia não é prioridade para a estrela e afirmou que as críticas fizeram bem ao jogador, que ainda está longe de repetir o sucesso de Pelé como embaixador do "soccer".

A comparação com o Rei foi inevitável quando Beckham foi contratado em 2007. Porém, dois anos depois, o inglês fez pouco pelo futebol nos EUA. Enquanto Pelé se dedicou integralmente ao projeto do New York Cosmos, o camisa 23 nunca conseguiu fazer o Galaxy avançar aos playoffs da MLS (a principal liga do país), passou os primeiros seis meses de 2009 no Milan e é mais conhecido nos Estados Unidos pela vida fora de campo do que pelo que faz com a bola nos pés.

Desde a chegada de Becks a Los Angeles, Grant passou a acompanhar o Galaxy diariamente e escreveu o livro, mesmo sem a autorização “oficial” de Beckham. Segundo o jornalista, os representantes do meia lhe pediram dinheiro para conseguir entrevistas exclusivas. Ele se recusou e seguiu a equipe em praticamente todas as partidas, ganhando a confiança de jogadores e comissão técnica.

- Podem me chamar de louco, mas nos Estados Unidos nós não pagamos por entrevistas e não pedimos autorização a alguém para publicá-las. Se essa é a ideia que Beckham faz do jornalismo, então ele realmente vive numa bolha – escreveu Grant em seu blog, após o meia ter criticado o livro publicamente.

Divulgação/Divulgação

Em sua volta ao estádio Home Depot Center, Beckham quase brigou com torcedor do Galaxy

Esta não é a primeira vez que o repórter se mete em polêmica. No ano passado, virou notícia na imprensa esportiva mundial por ter tirado o técnico Dunga do sério. Depois da derrota do Brasil por 3 a 0 para a Argentina na semifinal dos Jogos Olímpicos de Pequim, Grant perguntou ao treinador o que tinha acontecido “com o futebol bonito” do Brasil. Ao ouvir a pergunta em inglês, Dunga pensou que o jornalista fosse britânico e respondeu irritado:

- Seria maravilhoso marcar gols em todos os jogos. Assim como seria maravilhoso se a Inglaterra tivesse vencido mais Copas do Mundo, não só uma – disse, sem saber que falava com um americano.

Na entrevista abaixo, Grant lembra do problema com Dunga e analisa a passagem de Beckham pelo “soccer”:

Seu novo livro é sobre a experiência de Beckham nos Estados Unidos. Qual conclusão você tirou disso? Beckham fez bem ou mal ao “soccer”?

GRANT WAHL: De alguma forma, Beckham tem sido bom para o futebol nos Estados Unidos. Mais pessoas ao redor do mundo sabem da existência da MLS simplesmente porque Beckham está na liga, e o Galaxy fez milhões de dólares durante a passagem dele pelo time. O problema é que a carreira de Beckham nos EUA raramente tem a ver com futebol. O Galaxy foi uma equipe ruim nos dois primeiros anos dele, e enquanto Beckham tem sido uma celebridade de sucesso aqui, os milhões de americanos que acompanham Beckham como celebridade não sabem, ou não se importam, como ele está indo no campo. Isso é um problema para o futebol nos EUA.

No livro, Donovan criticou Beckham, dizendo que ele não estava totalmente comprometido com o Los Angeles Galaxy. Logo depois do lançamento, os torcedores do clube criticaram muito o inglês em seu retorno ao Home Depot Center e um até quase brigou com Beckham no campo. Os torcedores estão certos? Beckham tem futuro na MLS?

Os torcedores do Galaxy não se importam com o mundo de marketing ou celebridade de Beckham. Eles só querem ver seu time ganhando, e eles acham que o Galaxy perdeu o rumo no campo desde a chegada de Beckham. Eles também viram o Beckham jogando duro e bem pelo Milan e não acham que ele jogou assim em Los Angeles. Mesmo a MLS sendo um campeonato de nível inferior, você precisa jogar bem para ter sucesso, e eles não acham que Beckham tenha feito isso apesar de todo o dinheiro que recebeu. Acho que o Beckham tem futuro na MLS somente se ele e o Galaxy começarem a vencer. E isso é possível: Los Angeles ganhou quatro partidas seguidas na liga e parece que as críticas da torcida e de Donovan motivaram Beckham a jogar melhor pelo Galaxy do que no ano passado.

Você concorda com Donovan? Beckham não tinha comprometimento com o futebol dos Estados Unidos?

Os americanos entendem que Beckham queira jogar pela sua seleção na Copa do Mundo, mas eles também querem que ele seja honesto e pare de dizer que está totalmente comprometido com o Galaxy, quando na verdade ele é um jogador de meio expediente nesta temporada e queira ser um jogador inteiro na próxima temporada. Os americanos são fanáticos por esporte, e podem dizer quando um jogador não está sendo honesto ou não está dando tudo que pode.

É possível fazer alguma comparação entre Beckham e Pelé nos Estados Unidos? Quem foi mais importante para o futebol no país?

Certamente há comparações entre Beckham e Pelé. Os dois vieram para os EUA como mais do que apenas jogadores. Eles são embaixadores do futebol, que tentaram tornar o jogo popular aqui. Mas há algumas grandes diferenças entre eles. Pelé ganhou campeonatos e Beckham não chegou nem perto ainda. Pelé estava totalmente comprometido com o Cosmos e não perdeu metade da temporada para ir jogar na Europa. Claramente, Beckham tem o Galaxy lá embaixo nas suas prioridades e ele é um jogador de meio expediente no clube agora. Pelé converteu milhões de americanos em fãs de futebol. Beckham chama mais atenção por ser celebridade. Ele não transformou os americanos em fãs de futebol, e por essa razão o legado de Beckham no futebol dos EUA será muito menos importante que o de Pelé.

Você estava na Copa das Confederações e viu a vitória do Brasil sobre os Estados Unidos. Algum dia na sua vida você imaginou que a seleção americana poderia vencer a brasileira na final de um torneio da Fifa?

Eu não podia acreditar no que eu estava vendo quando os EUA fizeram 2 a 0 no Brasil. Eu já estava imaginando o capitão Bocanegra levantando o troféu e sua foto na capa da Sports Illustrated. Seria um momento histórico para o futebol dos EUA. Mas tudo mudou no segundo tempo, o Brasil passou a jogar como Brasil de novo e mereceu vencer. O jogo teve muita atenção nos EUA, e os americanos puderam ver como o futebol pode ser lindo e emocionante – em um único jogo! Eu gostei do que Donovan disse depois do jogo: os EUA não estão querendo mais ganhar respeito; os EUA querem ganhar troféus. Aquele jogo foi um soco no estômago.

No ano passado, você perguntou ao Dunga sobre o “jogo bonito” e ele pensou que você fosse inglês e estava fazendo uma provocação. Ele não foi muito educado na resposta, lembra? E agora, o Brasil está “jogando bonito”?

Eu lembro disso: Dunga não ficou feliz comigo! É evidente que o Brasil está jogando muito melhor agora e será um dos favoritos na Copa do Mundo de 2010. Kaká é muito perigoso pelo Brasil agora e parece que o Dunga conseguiu uma bela combinação de jogadores. Mas ainda é difícil chamar isso de “jogo bonito” quando há dois volantes. O futebol mundial é assim hoje. Se o Brasil for hexa em 2010, o time será mais comparado a 1994 do que a 1970 e 1982. Há glória nisso, mas não tanta magia.

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